Nesta quinta-feira (3/9), a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) publicou o relatório “Unindo forças pela educação de pessoas refugiadas” (Coming Together for Refugee Education, em inglês), com dados inéditos sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus na educação de jovens e crianças em situação de refúgio.
Os dados do relatório são de 2019 e se baseiam em informações de doze países que acolhem mais da metade das crianças refugiadas do mundo. Ele aponta que apenas 31% dos jovens refugiados estão matriculados na escola secundária (equivalente ao ensino médio no Brasil), enquanto na escola primária (equivalente no Brasil ao ensino fundamental) a taxa de matrícula de crianças refugiadas é de 77%. No ensino superior, apenas 3% dos jovens refugiados estão matriculados.
A situação das meninas
Os riscos são mais graves para as meninas refugiadas. Elas já têm o acesso a educação mais limitado que os meninos e têm metade da probabilidade de se matricularem no nível escolar secundário.
Com base nos dados do ACNUR, o Fundo Malala estimou que, como resultado da COVID-19, metade de todas as meninas refugiadas na escola secundária não retornará quando as salas de aula forem reabertas neste mês. Todas as meninas correm o risco de abandonar os estudos para sempre em países onde a taxa bruta de matrícula de meninas refugiadas já era inferior a 10%.
O acesso à tecnologia
Se muitas famílias nativas de países como o Brasil não têm acesso à aparelhos eletrônico e à internet, 85% das famílias refugiadas também têm limitações para adaptar-se à situação imposta pela Covid-19, em países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos.
E o coronavírus não é o único risco enfrentados por refugiados. Na região do Sahel, na África, 2,5 mil escolas foram afetadas devido à ataques violentos, interrompendo os estudos de 350 mil alunos, conta o relatório.
Bons exemplos
O relatório também mostra como famílias, comunidades e governos estão trabalhando para proporcionar educação às crianças refugiadas. Além de expor exemplos positivos de governos que transformaram em lei o direito das crianças refugiadas a frequentar escolas públicas, com histórias do Equador e do Irã.
Como exemplos de inovação digital são destacados os benefícios da transição para o aprendizado online com a história Ministro da Educação do Egito e de uma família na Jordânia.
O interesse de governos, setor privado, sociedade civil e outras partes em encontrar soluções que fortaleçam os sistemas nacionais de educação e se conectem com os caminhos para a educação formal e certificada são destacadas no relatório.
Durante o lançamento do documento no Brasil, em encontro online realizado por ACNUR, Compassiva, o Sesc e IKMR, foram apresentados exemplos de ações e projetos realizados no Brasil, em prol da educação de refugiados.
A Compassiva tem duas frentes de trabalho que contribui com a educação de refugiados na cidade de São Paulo: as aulas de português, oferecidas por meio do programa LAR (Levando Ajuda ao Refugiado), e o projeto de revalidação de diplomas.
Camila Suemi, Coordenadora jurídica da Compassiva, conta que o maior impacto da pandemia nas atividades foram a realização das aulas onlines e todo o processo de revalidação de diploma ter também migrado para acontecer via plataforma digital. Atualmente há 142 alunos matriculados e, no primeiro semestre, 66 processos de revalidação foram iniciados.
É possível ter acesso ao relatório (em inglês) aqui.