“Eu sempre tive o sonho de viver em paz e me incentivaram a buscar isso” | #ECA30ANOS

Era uma vez um menino que morava em uma cidade da região metropolitana de São Paulo e, aos onze anos, foi morar nas ruas do centro da cidade de São Paulo. “Eu fiz umas amizades que não eram muito boas”, conta Bruno*, 21. Ele tem seis irmãos e, após a mãe se divorciar do padrasto e voltar a se envolver com drogas, estava sendo criado pela irmã mais velha. “Meus irmãos e eu ficamos morando praticamente na rua”, lembra.

Após seus amigos terem sido levados para a Fundação Casa, passou a perambular pelas ruas. “Eu fiquei sozinho, morando e dormindo na rua. Me acostumei e não ligava para nada, nem para a minha própria vida”.

Ele começou a ouvir falar de projetos sociais e passou a frequentar a Missão Cena, na Estação da Luz, que atuava em parceria com a Compassiva, oferecendo banho, roupa, comida e uma atividade artística ou esportiva para as crianças e adolescentes em situação de rua. Eram cerca de 20 meninos e meninas de várias idades.  

“Era explosivo porque imagina você colocar adolescentes em situação de rua dentro de uma ambiente, em um prédio, e tentar ter ordem. O negócio era punk rock mesmo”, recorda Caetano Pinilha, coordenador do Projeto Dojo da Compassiva

Foi nesse espaço que Bruno* e Caetano se conheceram. “Eu passava um tempo lá [na Missão Cena], esquecendo os problemas e me apeguei ao Caetano por causa do esporte. Eu ia sempre. Tinha o dia certinho de acompanhamento e às vezes eles iam na rua atrás de nós”.

Foi em um desses dias de ir às ruas abordar as crianças que Caetano recebeu uma notícia. “Uma das adolescentes me encontrou e falou ‘Ow tio, você ficou sabendo do Bruno*? Ele foi atropelado e está na Santa Casa’. Fui até a Santa Casa, conversei com a assistente social de lá e ela me perguntou se eu tinha contato com a família, pois se não, iriam acionar o Conselho Tutelar”.

“Foram procurar a minha família e acharam minha irmã mais velha, contaram que eu estava internado e fui pra casa com ela depois”, conta Bruno*.

A partir do momento que Caetano e uma equipe da Compassiva encontrou a irmã de Bruno, a história toda da família passou a ser conhecida. “Ela já tinha uns 19 anos, assumiu a casa, ficou responsável pelos irmãos e trabalhava em bar ou restaurante para colocar comida em casa. A gente começou a acompanhar essa família”, recorda. Mas, havia uma questão: “o Bruno* estava apaixonado pela rua”. 

“Eu ia pro centro [de São Paulo] e voltava pra casa, depois ia pro centro de novo, para me aventurar e fazer coisas erradas”, diz Bruno*. 

Caetano conta que, apesar das idas e vindas de Bruno*, a Compassiva continuou provendo o que estivesse ao alcance, com cestas básicas, móveis, direcionamento a apoios governamentais e até recreação. “A gente fez, por exemplo, passeio no zoológico com eles para que pudessem se entender como família, pois se todos vão junto ao zoológico eles têm um tempo juntos, tiram fotos e têm uma lembrança”, conta Caetano. 

“Eles começam a perceber que, mesmo em uma família quebrada, eles são uma família. A irmã do Bruno* nunca veio à Compassiva presencialmente e talvez não sabe falar esse nome, pois, pra ela sempre foram o Caetano, a Joyce, a Melanie, as pessoas”.

Bruno*, por sua vez, já tinha ido à Compassiva em algumas atividades, mas, segundo ele, “não focou totalmente”. O resultado foi sua ida para a Fundação Casa. Mesmo assim, essa relação se intensificou. “Um dia, simplesmente me chamaram e falaram que eu tinha visita. Eu vi o Caetano e fiquei impressionado, porque ninguém nunca tinha ido me ver lá”, recorda.

Entre idas e vindas, a Compassiva, por meio de pessoas, se manteve presente em momentos decisivos na vida de Bruno* e de sua família. Com o tempo, esse apoio foi gerando transformação em sua perspectiva. “Eu percebi a mudança quando ele começou a olhar os meninos, companheiros dele na Fundação Casa, e começou a criticar, no bom sentido. Porque ele olhava para eles e falava ‘esse moleque joga futebol bem pra caramba e falou que não quer nem saber, que só quer saber do crime’. Ele mesmo começou a fazer esse movimento, pois queria algo novo e diferente”, explica Caetano.

A partir de então, entre cursos profissionalizantes e até oportunidades de trabalho, além do acompanhamento em situações diversas de sua juventude, Bruno* continua a sua história, ainda sem final, nem sempre feliz, mas com esperança. 

“Eu sempre tive meu sonho de viver em paz e tranquilo e fui incentivado a buscar isso. Até hoje me perguntam se eu preciso de alguma coisa, me ligam. Desde sempre a Compassiva me recebeu como família. Foi um lugar que eu me senti muito bem”.

Bruno* tornou-se pai e vive com a esposa. “Estou super apaixonado pela minha princesa. Quero que ela saiba o que eu passei para que use como exemplo e busque o que é melhor para ela”.

Conheça a história do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e saiba os deveres que temos para manter em segurança e em pleno desenvolvimento todas as crianças e adolescentes.

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*Bruno é um nome fictício

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