Minha família é um pouco diferente das convencionais. Há 50 anos, minha mãe estava grávida do meu pai, caiu num poço e o que salvou a vida dela foi a barriga. Ela não pôde mais ter filhos desde então. Ela orou e pediu para Deus que colocassem os filhos no caminho dela, se ela ainda tivesse que ser mãe.
Então, ela conheceu mulheres que não queriam seus filhos, adotou meus dois irmãos, cada um de uma família diferente, e eu fui a última a integrar a família, dez anos depois. Meus pais já tinham em torno de 40 anos.
Eu me lembro da primeira vez que percebi que era adotada. Tinha entre 5 e 6 anos e ouvi minha mãe contando a história para uma amiga dela, onde ela explicava “eu falo pra ela que tem duas mães, ‘uma da barriga e outra do coração’”.
Sinceramente nunca me senti excluída ou diferente e, mesmo com o passar do tempo, só fui amando mais meus pais por tudo o que fizeram por mim, por escutarem a voz de Deus e decidirem nos amar todos os dias.
Se eu fosse levantar dificuldades nesse relacionamento, acho que o maior desafio foi lidar com a diferença de idade, mas no fim isso virou uma oportunidade de ensinar meus pais sobre o mundo moderno e tecnologias (hahaha). Então, eu acho que aprenderam muito comigo a como se integrar nessas gerações.
Por minha mãe ser branca e eu negra, em alguns momentos as pessoas não associavam que ela era minha mãe, mas isso não é o tipo de coisa que você não acostuma a lidar. Isso só me mostrava que ela nunca se importou com o que os outros falavam e me ensinou a não ligar para isso também.
Tive algumas inseguranças por também não corresponder ao que eles esperavam de mim, então sempre pensei que tinha que ser perfeita (o que acho que acontece em toda família), mas nunca tive problema com a adoção em si. Eu acredito que sempre estive onde Deus queria que eu estivesse e toda essa minha história só me aproximou mais dEle e dos meus pais. Tive e tenho muito exemplo deles, algumas broncas e, mais importante do que tudo, muito amor.
Deni Guimarães, 33, é artista audiovisual e educadora.
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