Após a suspensão de atividades, forçadas pela pandemia, o projeto Dojo, de prática de jiu-jitsu com adolescentes da comunidade em torno da Compassiva, voltou às atividades em janeiro.
“O que nos motivou a retornar foi o fato dos jovens estarem ociosos durante toda a pandemia”, explica Caetano Pinilha, coordenador de projetos. Durante o acompanhamento online, em todo este tempo, houve relatos sobre a dificuldade em realizar atividades escolares, por falta de equipamentos necessários, por não estarem em um ambiente propício. “E não apenas isso, faltava motivação. O treino pode ajudar os adolescentes a ficarem mais calmos, fortalece o organismo e até mesmo a imunidade”, acredita.
Agora, uma turma de cerca de sete alunos está se encontrando ao ar livre, semanalmente, em parques. “Estávamos impossibilitados de fazer isso porque a prática do jiu-jitsu é uma prática de muito contato físico e o nosso prédio não tem muita ventilação, mas no final do ano passado surgiu essa ideia e quisemos tentar”. O uso de máscara e de álcool em gel é obrigatório.
Escuta ativa, conversa aberta
Além de incentivar a prática do esporte, o Dojo tem o objetivo de estar próximo dos adolescentes. Esse reencontro é uma maneira de retomar a mentoria com a turma, ouvindo suas necessidades e expectativas.
“Tivemos um tempo muito bom sentados antes do treino, conversando”, conta Caetano. São estes momentos que possibilitam o reconhecimento sobre a situação de cada jovem e de suas famílias.
Uma das meninas do grupo, por exemplo, está acima do peso. Há muito tempo ela participa do Dojo e tem reclamado de dores nos joelhos e calcanhares. “Quando questionei sobre sua rotina, ela contou que a mãe sai para trabalhar e ela fica em casa e come doces e salgados, que não sabe cozinhar”, diz Caetano. A partir daí, surgiu a proposta de ensiná-la a cozinhar. “Isso vai melhorar a qualidade de vida dela e de sua mãe, elas vão gastar menos dinheiro com comida comprada na rua”.
Outro adolescente da turma também compartilhou sobre o desejo e necessidade de trabalhar. Sua família, até pouco tempo, vivia em uma ocupação e agora alugaram uma casa. “Ele quer ser jovem aprendiz, ajudar sua família, e saber disso nos ajuda a correr atrás de algo com ele”, diz Caetano. No mesmo dia, surgiu uma possibilidade de emprego, que já foi encaminhada para o garoto.
Passar tempo com essa turma tem o objetivo de mostrar que estamos juntos, apesar de toda dificuldade que possa surgir. “Diante dessa grande dificuldade que é a pandemia para gente, é importante ser uma presença na vida deles que de alguma forma traz esperança”.