Por: André Leitão
Neste ano, tivemos o privilégio de participar, no período de 14 a 16 de junho, em Genebra, na Suíça, da Consulta anual com ONG’s parceiras do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). O evento acontece todos os anos com a intenção de avaliar, discutir e encontrar soluções e estratégias a serem implementadas para assistir de forma mais eficaz aos refugiados ao redor do mundo.
Desta vez, o encontro tinha como alvo a implementação do Marco Integral de Respostas a Refugiados (MIRR), a partir da declaração de Nova Yorque sobre imigrantes e refugiados com a participação dos Estados envolvidos na resposta multilateral diante dos deslocamentos de milhares de pessoas nos últimos anos.
A consulta tem sempre a intenção de conclamar ao diálogo e a inclusão na participação ativa das organizações humanitárias, defensores e implementadores dos direitos humanos e Associação da Cruz Vermelha, que são parceiros explícitos para assegurar uma implementação conjunta do MIRR.
Foram revistas as aplicações regionais do marco no seu contexto e suas oportunidades nas iniciativas locais, além de entender como ONG’s podem contribuir nesta implementação em todos os níveis de atuação.
Outro aspecto importante foi o reconhecimento da necessidade de encontrar “novos caminhos” para melhorar a parceria entre governos, ACNUR e ONG’s de maneira a incluir a colaboração da sociedade civil, construir uma capacidade local e assegurar a participação na solução dos problemas enfrentados pela população alvo destas ações. Uma tônica da consulta também foi de observar e aprender com as boas práticas na implementação do MIRR ao redor do mundo.
Tudo isso proporcionou que esta consulta se desenvolvesse em um ambiente de determinação e desejo de enfrentar a maior crise humanitária deste século, com esperança da expansão global de soluções que se tornem duradouras e eficazes.
A participação de jovens refugiados e seu entusiasmo em buscar soluções para os problemas enfrentados por eles e suas comunidades era inspiradora e, ao mesmo tempo, didática. Ao enviar mensagens claras e positivas de que eles são parte dessa solução e não apenas objetos dos esforços de todos os envolvidos.
Esse processo permitiu olhar para várias iniciativas criativas que promovem a integração e desenvolvimento, não somente dos próprios refugiados, mas de suas comunidades anfitriãs. Ficou claro que, para uma verdadeira integração em qualquer país, sempre será necessário trazer ambas comunidades juntas para enfrentar os desafios criados com o deslocamento forçado de pessoas.
Diante de realidades tão diferentes entre os países que recebem os refugiados e seus desafios foi renovador observar tantas iniciativas que visam ampliar as oportunidades de emprego e empreendimento para refugiados e por refugiados que, não somente atingem suas comunidades, mas trazem uma expansão e renovação da economia de comunidades, cidades e países acolhedores.
Cada vez mais as iniciativas e programas de capacitação, desenvolvimento e empreendedorismo se tornam soluções para milhares de refugiados e a população local. Essas ações são cruciais para acelerar a independência da população alvo e sua integração com a comunidade local.
Em frente ao desafio de uma população de 65 milhões de pessoas deslocadas ao redor do mundo, se torna crucial a busca constante da implementação do MIRR, assim como a criação de novas estratégias e soluções criativas para acolher e integrar esta população pelas nações acolhedoras ao redor do mundo.
Muitas lições e ideias foram compartilhadas e aprendidas durante esses dias de interação intensa entre as organizações participantes e seus representantes. Em todas elas ficava cada vez mais nítido que nossa resposta a esta calamidade deve ser a altura de sua magnitude seja no Oriente Médio, África, Europa, Ásia ou aqui nas Américas.
Uma resposta capaz de vencer e superar desafios, obstáculos, muros, barreiras e indiferença, a fim de resgatar e assegurar o valor de cada vida, cada ser humano forçado em condição de refúgio. Um conjunto de respostas que possa assegurar que somos todos iguais, semelhantes, filhos e filhas, pais e mães, irmãos e irmãs, avós, tios, primas, cônjuges.
Iniciativas, “boas práticas”, respostas, quebras de paradigmas e tudo mais que possa nos fazer agir diante de pessoas que são por fim, pessoas como nós, gente como a gente.