Os relacionamentos que nascem no voluntariado

“Eu perguntei se precisavam de ajuda”. Foi apenas com esse questionamento que Bashar, refugiado sírio que chegou ao Brasil em 2015, quando ele tinha 15 anos, tornou-se voluntário da Compassiva durante essa pandemia, contribuindo com a distribuição das cestas básicas.

Atendido pelo programa LAR (Levando Ajuda ao Refugiado), Bashar é grato pelo o que conquistou até aqui. “Além de me ajudar a sobreviver, a Compassiva me ajudou a crescer profissionalmente. Eu consegui um emprego, um curso, estudar e melhorar a minha vida e da minha família”, afirma.

Esta sexta-feira, 28/08, é o Dia Nacional do Voluntariado e há o que celebrar. Assim como Bashar, durante essa pandemia de covid-19, milhares de pessoas se mobilizaram em solidariedade ao próximo. Até então, o trabalho voluntário estava em queda, segundo dados da da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), referente a 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho voluntário foi realizado por 6,9 milhões de pessoas no país no ano passado, 300 mil a menos do que em 2018.

A Compassiva, tanto quanto muitas organizações sociais, depende do trabalho voluntário para realizar muitas de suas ações. Atualmente, cerca de 80 voluntários contribuem para que as atividades do programa LAR e outras iniciativas emergenciais aconteçam. Desde quando começamos a sonhar com uma instituição, enquanto já buscávamos fortalecer as vidas que precisam, na região da Liberdade, centro de São Paulo, contamos com a mobilização de pessoas que doam a si mesmas para o bem comum.

Caetano Pinilha, coordenador de projetos, era uma dessas pessoas. Buscando sempre atuar de forma prática, diante de todo e qualquer desafio ele sempre se questiona: “O que está ao meu alcance? E como eu posso responder a isso?”. No entanto, há algo que ele busca com as pessoas, antes de fazer algo por elas:

“Eu sempre preferi me relacionar com as pessoas e o relacionamento vem antes das coisas que a gente pode oferecer. Às vezes que eu falo que não dá, quando realmente não dá, contribuem para não criar um vínculo baseado apenas no que eu posso oferecer”.

A advogada Fernanda Ruas também atuou em diversas frentes, voluntariamente, antes de atuar no projeto de revalidação de diplomas no LAR. Inclusive, ela foi uma das pessoas que ajudou a construir o estatuto social para instituir juridicamente o que ainda nem tinha nome de Compassiva. Para ela, também são os relacionamentos o motivo de tanto serviço. “A Compassiva tem transformado muito a minha vida. Podemos conhecer um pouco mais da história de cada pessoa”, diz.

Essa oportunidade de relacionamentos é o que também move a Lena Gonçalves, assistente social que, desde o início, tem sido voluntária na organização. Um amigo indicou a Compassiva para a Lena há alguns anos, assim que ela voltou de um período trabalhando em outros países e, desde então, ela tem atuado voluntariamente como assistente social, cuidando, sobretudo de agendamentos de atendimentos médicos para refugiados.

Ela se comunica com refugiados sírios mesmo sem saber falar árabe. “Uma vez a médica perguntou como eu conseguiria ajudar no atendimento sem saber falar uma palavra em árabe”, conta. “Eu entrei na sala, fiz os gestos, explicando o que a doutora iria fazer e a refugiada me entendeu e autorizou o procedimento. A médica sorriu na hora”. Durante a pandemia, essa aproximação que Lena tem com as famílias refugiadas permitiu que mantivesse o contato com elas, informando sobre outros atendimentos emergenciais.

O voluntário Matheus Nakamura dá aulas de português para refugiados do programa LAR (Levando Ajuda ao Refugiado). Para ele, o que mais o marca nesse trabalho é a ‘desromantização’: “É muito fácil cair naquela lógica de estarmos aqui como os ‘salvadores’ daquelas vidas, mas não é assim. A questão é que podemos nos relacionar. A Compassiva me proporciona a chance de conhecer de perto a realidade e me deu a oportunidade de perceber que o aprendizado é mútuo”.

O voluntariado tem a sua força no enfrentamento às desigualdades sociais e às necessidades tanto emergenciais quanto a longo prazo. Neste Dia Nacional do Voluntariado, agradecemos às pessoas que se engajam como voluntárias em nossas atividades, visando o fortalecimento de vidas tão importantes quanto qualquer outra. Há desafios pela frente, mas, com certeza, serão enfraquecidos pela compaixão que transforma.

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