Alunos do programa LAR da Compassiva visitam o Museu do Futebol como primeira atividade do ano
Aprender uma língua é muito mais do que adquirir vocabulário ou pronunciar bem seus fonemas, vai muito além de conhecimento gramatical ou de se entender sua sintaxe. Aprender uma nova língua é também conhecer e viver uma nova cultura, construir uma identidade, se reconhecer ou se encontrar em um novo mundo.
Pensando nisso, a Compassiva tem planejado passeios periódicos como a visita ao Museu do Futebol no último sábado, dia 13 de janeiro. Ao ensinar o português brasileiro aos refugiados atendidos pelo programa LAR (Levando Ajuda ao Refugiado), a coordenação do curso tem se preocupado com o acesso desses alunos aos museus, bibliotecas, centros culturais, parques e outros espaços de lazer e cultura da cidade e também com o conhecimento da história e cultura do Brasil, tão relevantes na compreensão da identidade brasileira e da nossa língua.
A intenção dessas atividades não é apenas contribuir com o aprendizado da língua, motivando os alunos e despertando o interesse deles pela cultura e pelo Brasil, como também auxiliar na adaptação dessas pessoas na cidade de São Paulo e informar para transformar a realidade. O acesso à informação e a locais como o Museu do Futebol é importante para que os que estão aqui refugiados consigam conquistar seus espaços na cidade, que esses espaços possam fazer parte de suas vidas, que eles estejam informados e que possam se sentir mais incluídos, que possam se sentir cada vez mais em casa, para que construam aqui um novo lar. (Não é por acaso que o nome dado ao projeto da Compassiva voltado aos refugiados é LAR.)
Quanto à escolha do Museu do Futebol, a preferência surgiu por demanda dos próprios alunos. A relação do país com o futebol está presente no imaginário comum de muitos estrangeiros. O interesse pelo assunto e a vontade de entrar a um estádio de futebol (a visita ao museu permite o acesso ao estádio do Pacaembu) é grande! Na Síria, por exemplo, a grande maioria das mulheres nunca vai a estádios, o que tornou essa oportunidade ainda mais especial para as refugiadas que participaram da visita. A aluna Salsabil Matooq afirmou ter gostado muito do museu e disse que nunca tinha ido a um estádio antes, mas que assistia aos jogos na televisão e torcia pela seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo.
Mesmo para aqueles que já tinham entrado em um estádio de futebol, a experiência de ver um campo e conhecer uma arquibancada de grande porte no “país do futebol” foi ímpar. Os estádios na Síria são muito menores, de acordo com comentários de Abed Khalil, aluno palestino.
A visita completa durou mais de duas horas e incluiu muitas fotos no museu e no estádio do Pacaembu, partidas de pebolim, explicações sobre expressões próprias do futebol (“gol de bicicleta”, “dar um chapéu” etc.), diversas atividades para as crianças (o museu tem uma programação especial durante as férias escolares) e um chute a gol no final da visita.
Segundo Mohammad Ali Al Tanji, aluno da Compassiva há um ano, o passeio foi “muito especial”. Além do “aprendizado sobre a história e desenvolvimento do futebol no Brasil, da beleza do bairro do Pacaembu e da companhia de colegas queridos”, a visita fez com que ele revivesse “velhas memórias”. “Trouxe de volta à memória um episódio ocorrido há mais de 45 anos, o dia 21 de junho de 1970, quando assisti pela primeira vez na minha vida (em uma televisão em preto e branco) a seleção brasileira de futebol jogando a final da Copa do Mundo no México contra a seleção italiana de futebol. Não consigo encontrar palavras apropriadas para expressar minha alegria de criança em ver as estrelas de futebol daquela equipe: Rei Pelé, Gerson, Jairzinho, Carlos Alberto. Hoje me considero um grande fã daquela equipe”.
Ao final do passeio, ficou a certeza que o futebol pode sim aproximar culturas muito diferentes e países tão distantes uns dos outros. A experiência foi um momento de lazer que possibilitou a integração entre refugiados árabes e voluntários brasileiros e a participação desses cidadãos na cidade que agora também é deles.
Patrícia Bernardes é coordenadora pedagógica do curso de português para refugiados no programa LAR