Organizada juridicamente em 2014, de lá para cá, a Compassiva tem atuado em diferentes frentes em prol da transformação efetiva de vidas. Conheça um pouco dessa história!
25 de setembro de 2014, um marco na história da Compassiva. Nessa data, a organização passa a existir perante a lei e órgãos competentes de São Paulo. Mas, com os moradores do Centro da cidade, o trabalho já estava a todo vapor, porém, precisava ser organizado para alcançar ainda mais pessoas.
Abaixo, através de relatos de quem está por trás desse grande projeto de transformação de vidas, você verá como tudo começou e descobrirá o que somos e onde pretendemos chegar com nosso trabalho.
A burocracia
Como você já poderia imaginar, uma organização como esta não surgiria da noite para o dia. De acordo com o vice-presidente da diretoria que rege a entidade, Sandro Baggio, “a ideia de criar a Compassiva foi um passo lógico para o serviço que já vínhamos fazendo há anos com pessoas em situação de vulnerabilidade na região central de São Paulo. Com o crescimento do trabalho, novas oportunidades e a demanda por mais voluntários, percebemos que havia chegado a hora de organizar tudo de maneira institucional e legal”, conta.
O processo, burocrático e exigente, foi acelerado com a atuação do atual presidente da diretoria, André Leitão. Para Caetano Pinilha – coordenador das frentes que interagem com a comunidade local e que já atuava em ações sociais com o nome Compassiva nas Ruas, antes mesmo da organização ser juridicamente reconhecida –, “a chegada do André ao projeto, sua vontade de ampliar a atuação, passando a atender também refugiados árabes que começaram a chegar ao Brasil em números expressivos, foi importante para agilizar o levantamento dos documentos necessários”, afirma.
Desse período inicial, o próprio André lembra que “a burocracia é muito cruel, difícil, ela não ajuda a conseguir recursos e a mobilizar de maneira rápida o trabalho, ela emperra. Foi necessário perseverança para conseguirmos chegar até aqui, mas valeu a pena. A partir de agora começamos a ter direitos de conseguir certificados e registros que podem abrir ainda mais portas para a Compassiva”, comemora.
Os voluntários
Mas além do desafio de organizar a documentação, também foi preciso encontrar pessoas dispostas a abraçar a causa e comprometidas a criar não apenas mais uma organização, mas sim uma que fizesse a diferença na vida de cada pessoa atendida, por meio de relacionamentos.
Rafael Abreu, também membro da diretoria da organização, aceitou o desafio de ajudar a tomar as decisões e trabalhar em prol dos que mais precisam. “Um dia, o André me convidou para ser parte da diretoria e eu aceitei porque achei uma atividade muito importante e que valia a pena ser apoiada. Hoje, a Compassiva é um oásis no meio desse deserto que é a cidade de São Paulo. Nós lutamos tanto pra conseguir levar a nossa vida e cuidar das pessoas que amamos e por vezes somos confrontados com a necessidade dos outros e não sabemos o que fazer. Acredito que nosso trabalho vem como uma luva diante dessa realidade. Sou grato por fazer parte disso tudo”, registra.
Anderson Cunha, responsável por gerir as contas da entidade, também abraçou a tarefa e há três anos tem cuidado para que consigamos fazer muito, mesmo que com pouco. Ao pensar sobre o futuro da Compassiva, ele comenta: “Espero que consigamos profissionalizar nossos voluntários e ajudá-los financeiramente. Creio que assim poderíamos atender mais pessoas e crescermos como organização.”
Já o coordenador do projeto Crianças em Ação que promove atividades lúdicas com crianças dos bairros no entorno da Compassiva, Caleb Silva, aceitou o desafio de se juntar ao time, em janeiro de 2015. Hoje, comanda voluntários e 74 crianças e adolescentes que participam dos encontros, toda quinta-feira. Sobre a experiência adquirida nesse tempo, Caleb registra o quão especial é chegar todas as quintas e ouvir as crianças gritarem seu nome. “Nós vamos lá para dar algo a elas e elas nos entregam tanto de volta. É bem especial mesmo!”, externa.
No mesmo período, a designer Carolina Selles, atual responsável pela comunicação, começou a atuar na Compassiva como professora voluntária nas aulas de português para árabes, promovidas pelo programa Levando Ajuda ao Refugiado (LAR). Ela conta que, logo que entrou, havia pouca ajuda nessa frente e, por isso, topou o desafio. Com a chegada de mais pessoas qualificadas e interessadas a serem voluntários, ela pode se dedicar em sua área de formação, para a qual, após ficar por alguns meses na coordenação geral do LAR, retornou há pouco tempo e com muita animação.
“Optar por trabalhar na Compassiva foi um ‘divisor de águas’ em minha vida. Por anos, eu buscava propósito em meu trabalho e desejava que minha experiência e conhecimento profissional pudesse beneficiar outras pessoas, além de mim. E hoje, quase três anos que estou aqui, não há um dia sequer que eu não seja impactada por rostos, amizades e histórias que tenho a oportunidade de escutar, me envolver e me engajar diretamente”, relata Carolina.
A assistente social Lena Gonçalves é outro caso de sucesso quando falamos de voluntariado por amor. Há pouco mais de dois anos, Lena chegou à Compassiva por indicação de amigos e se tornou responsável por uma importante frente de relacionamento com os refugiados. Entre suas incumbências estão as visitas às famílias; procura e acompanhamento para efetuar matrícula dos filhos dos estrangeiros em escolas próximas às suas casas e encaminhamento hospitalar, quando necessário.
“Nesse tempo de Compassiva, me marcou muito o encontro que tive com uma gestante síria. Foi a primeira visita social que fiz e também fui a primeira pessoa que ela recebeu em sua casa aqui no Brasil. Ela compartilhou comigo que, antes de me conhecer, tinha receio do povo brasileiro, mas que eu a ajudei a quebrar isso. Hoje, continuo a acompanhar a família e temos um ótimo relacionamento”, comenta Lena ao falar do que a motiva em seu dia a dia.
De lá para cá
Com pessoas e histórias como as relatadas acima, a Compassiva saiu de uma ideia em construção, para se tornar uma entidade que conta com cerca de 100 voluntários ativos que atendem mais de 500 pessoas, por mês, nos diferentes projetos da organização.
O LAR, que começou apenas com o curso de português – 7 alunos e 3 voluntários –, hoje é um grande programa que abrange áreas de assistência social e jurídica. Para essas conquistas, parceiros foram fundamentais. E vale registrar o incentivo e confiança recebido, desde o início, da equipe da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, que atua há mais de 30 anos nessa frente. “Nossos primeiros alunos vieram por indicação deles. Sem falar que nos instruíram e ajudaram nos primeiros passos do nosso projeto”, afirma André.
Outra parceria fundamental para o crescimento expressivo desse programa, foi a firmada com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), no final de 2015. Com esse apoio conseguimos tornar a revalidação de diplomas de refugiados uma realidade em nosso dia a dia. “Com o orçamento que recebemos, conseguimos arcar com os custos jurídicos e despesas junto às universidades, que não são baratas e, assim, viabilizar o reconhecimento dos diplomas aqui no Brasil”, explica o presidente.
Ainda na frente refúgio, desde o primeiro ano de organização, conseguimos promover o Dia da Saúde, mutirão de assistência médica e odontológica que acontece anualmente em nossa sede. “O fato de conseguirmos oferecer atendimento qualificado com tradutores para que os refugiados árabes possam se sentir bem é algo único. Eles se sentem acolhidos, valorizados e nos mostram isso com ações e palavras. Quando uma pessoa que perdeu tudo exprime tais sentimentos, é extremamente gratificante”, revela André.
Nas demais frentes, vemos o sucesso da parceria firmada com a turma do Guri Santa Marcelina, programa da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo que fornece educação musical gratuita para crianças e adolescentes. Desde de 2014, nosso prédio se tornou um dos polos do Guri e, hoje, recebe cerca de 300 alunos por mês, nos cursos de iniciação musical e aulas sequenciais de violão, violino, viola, violoncelo, clarinete, saxofone, flauta, trompete, trombone, eufônio e percussão.
O Compassiva nas Ruas, que antes da organização oficial prestava acompanhamento a crianças e adolescentes de rua, se tornou um programa encorpado e com novos projetos sob sua alçada. Hoje, as famílias dessas crianças de rua e outras que são atendidas em atividades como o Crianças em Ação, recebem visitas constantes e apoio efetivo em suas diferentes necessidades.
Além disso, para ajudar em questões como a baixa renda dos lares, na maioria compostos por mães e filhos, ideias como as Oficinas Transformadoras – que promove encontros semanais para mulheres da comunidade terem um momento de lazer e aprendizado de alguma atividade artesanal – e o Ateliê Florescer – projeto que visa desenvolver habilidades e capacitar mulheres do bairro para que possam gerar sustento com seu trabalho – têm ganhado cada vez mais espaço.
Para o futuro
As perspectivas e sonhos são muitos e ninguém melhor para falar sobre as esperanças futuras do que quem lidera essa caminhada.
“Queremos desenvolver mais projetos que promovam a integração entre os brasileiros e os refugiados que atendemos e ainda viremos a atender. Acredito que devamos investir cada vez mais em educação e esporte para afastar crianças e adolescentes das drogas, das ruas e conseguirmos dar uma base moral para que possam viver de forma digna com suas famílias. Também queremos atender mais pessoas nas aulas de português, é nossa intenção abrir para outras nacionalidades, mas precisamos de estrutura”, compartilha André Leitão.
“A Compassiva está crescendo de maneira orgânica, sem afobação, com os pés no chão. Temos muitos sonhos, a necessidade é imensa e as oportunidades ao nosso redor são muitas. Mas entendemos que estamos lidando com vidas humanas e histórias marcadas pelo descaso, abandono e decepção. Portanto, preferimos dar passos lentos que podemos honrar do que criar falsas expectativas que sejam frustradas, aumentando a dor daqueles a quem buscamos servir”, encerra Sandro Baggio.