O “passe” para um novo recomeço

De sorriso largo e ânimo que contagia, Claudine não nega sua aptidão para a área na qual, há 17 anos, escolheu atuar, a Comunicação. Jornalista por formação, a congolesa, original da República Democrática do Congo – fato que, com orgulho, faz questão de ressaltar –, está no Brasil há pouco mais de dois anos, como refugiada.

A fuga de seu país de origem foi a alternativa encontrada por muitos que, como ela, se viram obrigados a abandonar seus lares para estarem a salvos da perseguição política.

E, para Claudine, a decisão de deixar tudo para trás só foi tomada após ter sua casa incendiada enquanto dormia. “Foi uma vizinha que viu o fogo e me ligou no celular para avisar. Graças a ela e aos demais amigos em nossa rua, conseguimos apagar as chamas, mas perdemos muito do que tínhamos”, conta.

Em meio ao desespero e incerteza do que retirar das chamas, Claudine salvou um item que, talvez, muitos de nós nem sequer lembraríamos que existia: o seu diploma. “Para mim, o meu diploma é um passe para começar de novo. Ele é muito importante, não poderia esquecê-lo”, salienta.

Certa disso, ao chegar de vez por aqui, ela não demorou a encontrar uma forma de validar o seu “passe” em solo brasileiro. Há cerca de um ano, por indicação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), foi apresentada à Compassiva e o processo de revalidação do seu diploma se tornou uma das causas da nossa advogada, Camila Suemi.

“Eu nunca havia visto um caso desses antes, fiquei até com receio de termos alguma dificuldade burocrática devido ao estado de um dos diplomas dela”, confessa Camila.

Mas, para a alegria de Claudine e, claro, nossa também, tudo correu bem e, em breve, ela terá em mãos o comprovante de que seu “passe” está mais do que validado em nosso país.

“Isso significa muito para mim, afinal, foram anos de estudo, trabalho e muita dedicação que não poderiam ser jogados no lixo. Ser reconhecida aqui no Brasil como jornalista é, sem dúvida, uma grande conquista”, afirma.

O primeiro passo foi dado, mas os desafios continuam. Com um filho de 10 anos para criar, Claudine agora enfrenta a difícil tarefa de conseguir uma recolocação em um mercado onde não possui contatos ou influência.

Contudo, a experiência profissional obtida ao longo dos anos em que atuou desde o rádio à chefia de equipes de comunicação integrada; o domínio de línguas como o inglês e o francês; e, agora, o reconhecimento de que está academicamente apta para continuar a atuar em sua área, mantêm viva a esperança de recomeçar.

“Eu sou apaixonada pela Comunicação e preciso voltar a trabalhar. Eu sei que consigo, mas me falta a oportunidade”, finaliza Claudine.

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